É comum ver o seccionamento do neutro na chave geral dos paineis, nas chaves de transferência, e etc. Apesar de parecer inofensiva, essa prática traz alguns riscos às cargas monofásicas da instalação. O funcionamento de um sistema deste é igual ao de um sistema sem o neutro seccionado, pelo menos enquanto o componente responsável por abrir e fechar o circuito está funcionando perfeitamente. O problema é que, assim como qualquer outro equipamento, ele tem uma vida útil.
Em algum momento, certamente o dispositivo responsável por interromper o circuito apresentará algum defeito, e talvez o mais frequente seja o não fechamento de algum dos quatro polos. Quando isso ocorre com uma das fases, as cargas monofásicas alimentadas por ela simplesmente desligam, enquanto as cargas trifásicas reagem de forma diferente dependendo da característica. Algumas se desligam, outras funcionam parcialmente, enquanto os motores acabam sofrendo uma sobrecarga nas bobinas alimentadas pelas outras duas fases. Mas essa falha costuma ser previnida com o uso de um relé de proteção contra falta de fase. Nos casos em que o polo que não fecha é o do neutro, há um perigo pouco conhecido.
As cargas monofásicas de uma indústria ou edificação, quase que em sua totalidade, são ligadas em paralelo. Para facilitar o entendimento, o esquema abaixo representa apenas duas fases e o neutro em uma instalação 220/380V:
Rearranjando o mesmo circuito, temos:
Agora, suponhamos que por alguma falha, o neutro acabe não entrando junto com as fases:
Ficamos com as duas cargas ligadas em série na tensão de 380V. Caso elas tivessem a mesma resistência, a tensão se dividiria por igual e não haveria maiores problemas. Como não é o caso, temos que calcular: a resistência total do circuito é 100Ω + 10Ω = 110Ω, então a corrente é 380V ÷ 110Ω = 3,45A. Neste caso, a carga de 100Ω, que foi projetada para trabalhar com 2,2A, provavelmente irá queimar. A corrente atual ultrapassa em 57% a nominal, e dificilmente a tolerância do equipamento será tão grande.
Fica claro o perigo de se trabalhar dessa forma, mas há também benefícios. Com a desconexão total das fases e do neutro, o equipamento desligado fica imune à surtos elétricos externos. Há também concessionárias de energia que exigem a operação de geradores dessa forma, então o recomendado é sempre consultar a normativa de cada empresa e avaliar cada caso.